Qual
Foi Realmente a Mensagem de 1888?
Os sermões que Jones e Waggoner pregaram na assembléia e
nas sessões da Conferência da Associação Geral não foram registrados; nem
tampouco alguns de Ellen White. Mas podemos conhecer a essência das suas
mensagens em seus escritos. Waggoner foi o orador principal acerca de Cristo e
Sua justiça no congresso. Um de seus livros, publicado pouco depois da
conferência, leva o título de Christ
and His Righteousness [Cristo e Sua Justiça]. Nele expõe o que desejou
transmitir em suas apresentações.
O Legislador Entrega-Se Pelo Pecador
O livro inteiro é uma radiante exaltação do amor de Deus e
de Sua misericórdia segundo manifestada por Jesus. Waggoner aconselha os seus
leitores a “considerar a Cristo, de forma contínua e inteligente”. “Cristo deve
ser ‘elevado’ por todos os que crêem nEle como o Redentor crucificado, cuja
graça e glória são suficientes para satisfazer as maiores necessidades do
mundo; significa que deveria ser ‘elevado’ em Seu extraordinário encanto e
poder como ‘Deus conosco’, de modo que Seu atrativo divino possa assim atrair a
todos para junto dEle” [Cristo e Sua Justiça, págs. 5-6].
Nossa certeza de perdão por todos os nossos pecados “está
no fato de que o próprio Doador da lei, Aquele contra quem” nos rebelamos e a
quem temos desafiado “é o que Se deu a Si mesmo por nós”. Em Cristo, Deus Se
deu e Si mesmo por nossa redenção, porque “não devemos imaginar que o Pai e o
Filho estavam separados nesta transação. Eram um só nisto, bem como em tudo o
mais” [Idem, pág. 45].
“Que maravilhosa manifestação de amor! O Inocente sofreu
pelo culpado; o Justo pelo injusto; o Criador pela criatura; o Autor da lei
pelo transgressor da lei; o Rei por Seus súditos rebeldes... O infinito Amor
não poderia encontrar uma maior manifestação de Si mesmo. Bem pode o Senhor
dizer: ‘Que mais se podia fazer à Minha vinha, que Eu lhe não tenha feito?’
(Isaías 5:4)” [Idem, págs. 45 e 46.]
O amor divino envolveu toda a criação. Por meio de Sua
morte sobre a cruz Jesus redimiu o mundo inteiro. “Ele não adquiriu uma certa
classe, mas todo o mundo de pecadores. ‘Porque Deus amor o mundo de tal maneira
que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça,
mas tenha a vida eterna’ (João 3:16). Jesus disse: ‘O pão que Eu der é a Minha
carne, que Eu darei pela vida do mundo’ (João 6:51). ‘Porque Cristo, estando
nós ainda fracos, morreu a Seu tempo pelos ímpios’. ‘Mas Deus prova o Seu amor
para conosco, em que Cristo
morreu por nós, sendo nós ainda pecadores’ (Romanos 5:6, 8)” [Idem, pág.
71.]
Gratuito Livramento do Pecado
Havendo nos comprado com o Seu sangue, Jesus aceita a todo
pecador arrependido tal como é e o cobre com o manto de Sua própria justiça. Ao
fazê-lo, “não fornece um disfarce para o pecado, mas remove o pecado. E isto
mostra que o perdão dos pecados é mais que uma mera forma, algo mais que um
mero registro nos livros do céu, ao ponto de ser cancelado o pecado. O perdão
dos pecados é uma realidade; é algo tangível, algo que afeta vitalmente o
indivíduo. Realmente liberta-o da culpa; e se está livre de culpa, está
justificado, foi tornado justo, e certamente sofreu uma mudança radical. É, na
verdade, uma outra pessoa” [Idem, pág. 66]. Waggoner mostrou que isto
está de acordo com o ensino do apóstolo Paulo quando escreveu: “Se alguém está
em Cristo, nova criatura é” (II Coríntios 5:17).
Cristo Identifica-Se Com o Pecador
Waggoner e Jones sustentavam que o Redentor vai mais além
de perdoar os pecados. O crente que aceita a Jesus como seu substituto e seu
fiador de salvação aprende a considerá- Lo como seu exemplo e Aquele que o
capacita a obter vitória sobre o pecado, o que se relaciona intimamente com a
encarnação de Cristo.
“O Salvador estava profundamente ansioso por que Seus
discípulos compreendessem para que fim Sua divindade estava unida à humanidade.
Ele veio ao mundo para manifestar a glória de Deus, a fim de que o homem fosse
erguido por Seu poder restaurador. Deus Se revelou nEle, para que Se pudesse
manifestar neles. Jesus não revelou qualidades, nem exercer poderes que os
homens não possam possuir mediante a fé nEle. Sua perfeita humanidade é a que
todos os Seus seguidores podem possuir, se forem sujeitos a Deus como Ele o foi”
(O Desejado de Todas Nações, pág. 664). “Nossa suficiência se encontra
unicamente na encarnação e morte do Filho de Deus” (Mensagens Escolhidas,
livro 1, pág. 355).
Ao tomar nossa carne ou natureza, Jesus uniu a humanidade
com a divindade. “Em Cristo havia uma sujeição do humano ao divino. Ele vestiu
Sua divindade com humanidade, e pôs Sua própria pessoa debaixo da obediência à
divindade... Cristo requer que a humanidade obedeça à divindade. Em Sua
humanidade, Cristo foi obediente a todos os mandamentos de Seu Pai” (Review
and Herald, 9 de novembro de 1897).
Foi Sua divindade, não Sua humanidade, o que permitiu que
Jesus vencesse a toda traiçoeira tentação que Satanás Lhe apresentou. A
encarnação de Cristo garante que podemos ser “participantes da natureza divina”
(II Pedro 1:4). Desta forma nós também podemos sair vitoriosos sobre a tentação
e o pecado, como fez Jesus durante a Sua encarnação ou enquanto habitou na
carne humana.
Por meio da encarnação, explicava Waggoner, “Cristo tomou
sobre Si a igualdade com o homem a fim de que pudesse redimir o homem”.
Continua dizendo: “Deve ter sido ao homem pecador que Ele Se assemelhou, porque
é ao homem pecador que Ele veio redimir. A morte não teria poder sobre um homem
sem pecado, assim como Adão foi no Éden; e não poderia ter poder sobre Cristo,
se o Senhor não houvesse tomado sobre Si a iniqüidade de todos nós. Mais ainda,
o fato de que Cristo tomou sobre Si mesmo a carne, não de um ser sem pecado,
mas do homem pecador, ou seja, que a carne que assumiu tinha as debilidades e
tendências ao pecado às quais está sujeita a natureza humana caída, se vê na
declaração de que ‘nasceu da descendência de Davi segundo a carne’. Davi
tinha as paixões da natureza humana” [Cristo e Sua Justiça, págs.
26-27].
Depois de citar II Coríntios 5:21, que diz: “Àquele que não
conheceu pecado, [Deus] O fez pecado por nós, para que nEle fôssemos feitos
justiça de Deus”, Waggoner comentava: “Isto é muito mais forte que a declaração
de que foi feito ‘em semelhança da carne do pecado’ [Romanos 8:3]. Ele foi feito
pecado... O imaculado Cordeiro de Deus, que não conhecia pecado, foi feito
pecado. Sem pecado, no entanto, foi não só contado como pecador, mas tomou
sobre Si a natureza pecaminosa. Ele foi feito pecado para que nós
fôssemos feitos ‘justiça’” [Idem, págs. 27-28].
A Impecável Vida de Cristo
Mas ainda que Waggoner apresentasse a Jesus como tendo
tomado a nossa natureza pecaminosa, cuidou para não considerá-Lo um pecador.
Disse:
“Alguns podem ter pensado, lendo até aqui, que estamos
depreciando o caráter de Jesus, ao trazê-Lo ao nível do homem pecador. Pelo
contrário, simplesmente estamos exaltando o ‘poder divino’ de nosso bendito
Salvador, que voluntariamente desceu ao nível do homem pecador, para poder
exaltar o homem a Sua própria imaculada pureza, que reteve mesmo nas
circunstâncias mais adversas. Sua humanidade somente velou a Sua natureza
divina... Durante toda a Sua vida houve uma luta. A carne, movida pelo inimigo
de toda justiça, tendia ao pecado, no entanto, Sua natureza divina, nunca, nem
por um momento abrigou um desejo mau, nem vacilou por um momento o Seu poder
divino” [Idem, págs. 28-29].
Como Podemos Vencer
Waggoner animava a seus ouvintes e a seus leitores com a
declaração: “Você poderá ter o mesmo poder que Ele teve se desejar. Ele foi
capaz de ‘compadecer-Se ternamente’ das nossas fraquezas (Hebreus 5:2) mas ‘sem
pecado’ (cap. 4:15), porque o poder divino morava constantemente com Ele” [Idem,
pág. 29].
Waggoner se referiu à promessa de Deus feita através do
apóstolo Paulo em Efésios 3:14-19, de que cada crente pode ser fortalecido por
Cristo ao morar em seu coração pela fé mediante o Espírito Santo. Desta forma
cada alma disposta pode ser cheia com a plenitude de Deus, que é capaz e está
ansioso de dar-nos força “mais abundantemente além daquilo que pedimos ou
pensamos”. Todo o poder que residia em Cristo pode morar em nós pela graça
divina, porque Ele nos concede gratuitamente.
Waggoner confiantemente afirmou que Alguém mais forte que
Satanás pode morar continuamente no coração do crente. E assim, o crente pode
enfrentar os ataques de Satanás e dizer: “Posso todas as coisas em Cristo que
me fortalece” (Filipenses 4:13) [Idem, págs. 29-31].
A mensagem de justificação pela fé apresentada no congresso
de 1888, foi verdadeiramente uma mensagem de esperança e vigor. Oferecia perdão
para todos os pecados. Mais ainda, oferecia a vitória sobre o pecado. Waggoner
desejava que os cristãos, antes relutantes, decidissem viver confiantemente,
amando a Deus.
No entanto, Waggoner advertiu que Satanás não estava
disposto a deixar que seus antigos escravos escapassem sem luta. Admoestou a
cada seguidor de Cristo a lembrar-se sempre que Cristo o havia libertado e que
já não é mais escravo de Satanás. Mas a vitória exige ceder continuamente á
vontade de Deus. Afastado dela, não há vitória [Idem, págs. 92-95].
Ao dar esta receita para vencer a tentação, Waggoner voltou
à sua advertência inicial: Mantenham seus olhos, seus pensamentos e seus afetos
em Jesus. Em
um de seus sermões, registrado na revista Signs of the Times de 25 de
março de 1889, Waggoner utilizou ilustrações da história para mostrar como
Jesus fortalecerá o pecador fraco mas arrependido, em sua luta contra o pecado
e contra Satanás.
“Os soldados de Alexandre [o Grande] –escreveu- eram
conhecidos como os invencíveis. Por quê? Era devido a serem naturalmente mais
fortes e mais valentes que todos os seus inimigos? Não; mas porque eram
liderados por Alexandre. A sua força estava em sua liderança. Debaixo de outro
líder haveriam sido derrotados inúmeras vezes. Quando o exército da União
estava fugindo, aterrorizado diante do general Winchester, a presença de
Sheridan [general norte-americano durante a Guerra da Secessão] tornou a sua
derrota em vitória. Sem
ele, os homens constituíam uma multidão temerosa; com ele à frente, eram um
exército invencível. Se vocês tivessem escutado os comentários dos soldados que
estavam a mando destes líderes e de outros como eles depois da batalha teriam
escutado louvores ao seu general em meio de todo regozijo. Eram fortes porque
ele o era; estavam inspirados pelo mesmo espírito que ele tinha”.
Vitória ao Olhar Para Cristo
Os pensamentos de um crente vitorioso não devem dirigir-se
para as tentações e as dificuldades. Waggoner disse que se os pensamentos de
uma pessoa se detêm nas tentações, inevitavelmente será vencido por elas. Ao
contrário, os pensamentos de um cristão vitorioso devem centralizar-se em Deus
e em Seu poder. Como exemplo disto, se referiu ao rei Josafá de Judá, cuja
vitória sobre os moabitas e os amonitas está registrada em II Crônicas 20.
Waggoner recordou a seus leitores que tão prontamente
Josafá recebeu a notícia da invasão inimiga, se aproximou de Deus. De pé, com
seu povo no átrio do templo, derramou sua alma a Deus em oração. Disse : “Na
Tua mão há força e potência, e não há quem Te possa resistir” (II Crônicas
20:6). Dirigiu-se a Deus em seu próprio nome e no de seu povo, “os nossos olhos
estão postos em Ti” (verso 12). Enquanto o rei e o povo se humilhavam diante de
Deus e mantinham os seus olhos fixos nEle, Deus lhes deu uma grande vitória
sobre seus inimigos. Waggoner disse: “Certamente, o homem que, na hora da
necessidade, começa sua oração com tal reconhecimento do poder de Deus, já tem
a vitória do seu lado. Mas notem que Josafá não somente declarou sua fé no
maravilhoso poder de Deus, mas também reivindicou a força de Deus
apropriando-se dela”.
Por suas próprias forças nenhuma pessoa pode derrotar a
Satanás. Mas no momento da tentação cada crente deveria recordar-se da promessa
de Deus a Josafá, aconselhou Waggoner. “Não temais, nem vos assusteis por causa
desta grande multidão; pois a peleja não é vossa, mas de Deus” (verso 15) [Idem,
págs. 78-80]. Waggoner ansiava que o indivíduo cheio do Espírito Santo e com os
seus olhos em Jesus obtivesse a vitória sobre o pecado: “Que maravilhosas
possibilidades há para o cristão! Que alturas de santidade pode alcançar! Não
importa quanto Satanás possa lutar contra ele, atacando-o em seu lado mais
fraco, pode habitar debaixo da sombra do Onipotente, e estar cheio da
plenitudade da força de Deus. Aquele que é mais forte que Satanás pode habitar
continuamente em seu coração; e assim, observando os ataques de Satanás como se
estivesse firmado sobre uma imponente fortaleza, pode dizer: ‘Posso todas as
coisas em Cristo que me fortalece’ (Filipenses 4:13)” [Idem, págs.
30-31].
O Santuário e a Justiça Pela Fé
De acordo com Jones e Waggoner, a vitória sobre o pecado
advém de uma correta compreensão da verdade acerca do santuário. Ellen White compartilha
desta idéia. Em seu sermão de 20 de outubro de 1888, o primeiro sábado da
conferência de Mineápolis, disse: “Cristo está agora no santuário celestial. O
que está fazendo? Está fazendo expiação por nós, purificando o santuário dos
pecados do povo. Portanto devemos entrar pela fé no santuário com Ele, devemos
começar a obra no santuário de nossa alma. Devemos limpar-nos de toda
contaminação. ‘Purifiquemo-nos de toda a imundícia da carne e do espírito,
aperfeiçoando a santidade no temor de Deus’ (II Coríntios 7:1)” [A. V. Olson, Thirteen
Crisis Years, pág. 276.]
Para Ellen White a resposta pessoal em relação com a
purificação do santuário celestial envolvia a purificação do templo da alma de
cada crente. Isto se reflete em seus escritos posteriores. Em 1890 escreveu:
“Cristo está purificando o templo celestial dos pecados do povo, e devemos
trabalhar em harmonia com Ele sobre a Terra, purificando o templo da alma de
sua contaminação moral” [Review and Herald, 11 de fevereiro de 1890].
Ellen White chamava a esta compreensão da justificação pela
fé de “mensagem do terceiro anjo, em verdade” [Review and Herald, 11 de
abril de 1890.] Esta verdade deveria reunir as pessoas que “guardam os
mandamentos de Deus e a fé de Jesus” (Apocalipse 14:12), e prepará-los para
encontrar-se com seu Senhor quando voltar em alegre paz. Ela resumiu esta
transformadora compreensão da justificação pela fé na frase “os incomparáveis
encantos de Cristo” [Olson, pág. 53].
Jones e Waggoner haviam captado pessoalmente a visão da inigualável
glória de Cristo. Tal conceito libertaria os crentes das garras do legalismo.
Por isso desejavam compartilhá-lo com os demais delegados da Conferência Geral
de Mineápolis de 1888.
Fonte: Arnold
Wallenkampf, O Que Todo Adventista Deveria Saber Sobre 1888, págs. 7-9
(versão on-line em PDF de Libros
de 1888). O Pr. Wallenkampf, Doutor em Teologia, dedicou a vida ao “ensino
em colégios e universidades adventistas como diretor associado do Instituto de
Pesquisa Bíblica da Associação Geral” (pág. 2).
Por Arnold Wallenkampf,
Doutor em Teologia
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