Introdução
O presente
trabalho tem como objetivo estudar o abarcante e controvertido tema do dom de
línguas; tendo como finalidade principal traçar uma linha divisória entre o
verdadeiro e o falso, porque sabemos muito bem que para todo movimento genuíno
e inspirado por Deus, Satanás apresenta uma contrafação.
A Bíblia nos
fornece a orientação segura para distinguir o veraz do ilusório, portanto só
ela determinará a distinção entre a verdadeira glossolalia
teopnéustica e a glossolalia
inspirada pelo inimigo da Palavra de Deus.
Sendo que
através da história da Igreja nenhum dom espiritual tem ocasionado tanta
controvérsia como o dom de línguas, ele precisa ser bem conhecido por nós.
Em nossos dias
o moderno movimento de línguas tem despertado grande interesse no mundo
religioso. Basta citar que apenas nos Estados Unidos, as estatísticas nos
cientificam de que 2.000 pastores das igrejas filiadas ao Conselho Nacional das
Igrejas falam em línguas. De outro lado, calculam os estudiosos, que também nos
Estados Unidos, o número de católicos que falam 1ínguas atinge 100.000.
O escritor Robert G. Gromacki, autor do
livro Movimento Moderno de Línguas
fez a seguinte declaração:
"Os dons
carismáticos estão se agigantando não somente entre professos pentecostais, mas
também entre religiões tidas como ortodoxas e muito mais rígidas quanto a
maneira de pensar. Hoje em dia, protestantes, católicos e espíritas estão em
comum acordo, que para solucionar os grandes problemas existentes nas igrejas
concernentes ao relacionamento de irmão para irmão, a solução é uma só:
apoderar-se de dons extraordinários como cura, profecia, e falar em línguas.
Isto vai ser o cimento que vai unir mais e mais os crentes em gera1.''
Espero que este
estudo ajude a iluminar a senda da verdade, clareando um pouco mais o caminho
dos que procuram palmilhá-lo com segurança.
Definições e Explicações
A palavra glossolalia, de acordo com seus
elementos constitutivos, significa: Glossa = língua – lalia = o ato de falar (do verbo laléo),
significando assim – falar línguas.
João F. Soren,
assim define:
"O dom de
línguas é um milagre divino em que, no exercício da vontade e sabedoria
divinas, o Espírito Santo concede a alguns crentes o poder de falarem em
idiomas que não aprenderam pelos processos naturais, e isto para o fim de
testemunharem eles de Jesus Cristo perante os que não crêem."
Elemer Hasse o
define com bastante precisão:
"Dom de
línguas é a divina capacitação de se poder exprimir numa língua
estrangeira."
Em outras
palavras: Dom de línguas é a possibilidade que o Espírito Santo concede ao
crente para falar um idioma totalmente desconhecido para ele.
Os
comentaristas de um modo geral afirmam: Esse dom consistia de poderes milagrosos
conferidos aos apóstolos para pregar o Evangelho a todas as nações nas suas
respectivas línguas.
É bom saber que
este dom não é necessário para a salvação da pessoa, mas uma concessão dada por
Deus para levar a salvação a outros.
O Interpreter's Dictionary of the Bible, vol. 4, pág. 671
declara que a glossolalia foi um
notável fenômeno do cristianismo primitivo, mas logo a seguir acrescenta que
este fenômeno não estava circunscrito ao cristianismo, desde que era encontrado
em muitas das religiões do mundo antigo.
No livro A Doutrina do Espírito Santo, pág. 51,
João F. Soren afirma: "O fenômeno glossolálico é universal no sentido que
aparece nas mais variadas circunstâncias, tempos e lugares. Encontramo-lo em o
Velho Testamento. Descobrimo-lo nas religiões pagãs e étnicas. Reponta em
seitas neopagãs e em diversos ramos e grupos do cristianismo primitivo,
medieval e hodierno. Constatamo-lo ainda em manifestações psicopáticas e
psiconeuróticas, sem qualquer influência religiosa."
Se os dons são
concedidos por Deus para edificação da igreja (I Cor. 14:12, 26), ele pode
conceder o privilégio de falar línguas para testificar a seu favor, desde que
isto se torne necessário.
Comentários Gerais
O Batismo com o Espírito Santo
e o Falar Línguas
Indica a Bíblia
que toda a pessoa batizada com o Espírito Santo falaria línguas? Os
pentecostais declaram de maneira enfática que os cristãos que recebem o
Espírito Santo precisam falar línguas.
Eis suas
declarações:
"Um
cristão que não foi batizado com o Espírito Santo, tendo como prova disso o
falar em línguas, é um fracalhão espiritual, comparado com aquilo que poderia
ser caso fosse batizado com o Espírito Santo, de acordo com Atos 2:4."
É dogma entre
as igrejas pentecostais, que o batismo no Espírito Santo sempre vem acompanhado
das 1ínguas.
A Constituição
das Assembléias de Deus afirma:
"O batismo
no Espírito Santo é testemunhado pelo sinal físico inicial do falar em outras
línguas, segundo o Espírito de Deus lhes concede."
Esta afirmação
seria defensável pela Bíblia? De modo nenhum, pois uma pesquisa bíblica nos
informa que de dezoito notáveis relatos do batismo com o Espírito Santo,
catorze não apresentam nenhuma referência a línguas.
Na Igreja Apostólica há
muitas evidências da manifestação do Espírito Santo na vida e na obra dos
crentes sem o aparecimento do dom de 1ínguas.
Os seguintes
exemplos são concludentes:
1º) Os sete
diáconos foram homens cheios do Espírito Santo, mas não há nenhuma menção de
que tivessem falado línguas.
2º) Os
samaritanos ao crerem na Palavra de Deus receberam o Espírito Santo, porém, não
foram agraciados com o dom de línguas.
O pastor
luterano Larry Christenson
estudando os relatos sobre o batismo, no livro de Atos, pergunta:
"Significará
isso que todo aquele que recebe o Espírito Santo fala em línguas – e que se
alguém não falou em línguas não recebeu realmente o Espírito Santo?" Sua
resposta é: "Não creio que se possa tirar essa conclusão fixa das
Escrituras." – Revista Trinity, vol. III. Nº l).
Que Significa ser Batizado com
o Espírito Santo?
O Espírito
Santo é descrito como vindo aos crentes antes do batismo (Atos 10:44-48),
seguindo-se ao batismo (Atos19:5, 6) e algum tempo indeterminado após o batismo
(Atos 8:12-17).
Se a palavra
batismo significa "imergir", o batismo pelo Espírito Santo indica que
somos imersos pelo Espírito Santo em Cristo. Esta idéia é confirmada pela
descrição paulina de Tito 3:5-7. Ela é mais evidente na linguagem do Novo Testamento Vivo – "Então Ele
nos salvou – não porque fôssemos suficientemente bons para sermos salvos, mas
por causa da sua bondade e compaixão – quando lavou os nossos pecados e nos deu
a nova alegria de sermos a morada do Espírito Santo. Que Ele derramou sobre nós
com maravilhosa abundância – e tudo por causa daquilo que Jesus Cristo nosso
Salvador fez, a fim de que Ele nos pudesse declarar justos aos olhos de
Deus."
Requisitos para Receber o
Espírito Santo
A Bíblia nos
apresenta quatro requisitos essenciais para o recebimento do Espírito Santo:
1º) Fé.
"E todos nós, como cristãos, podemos ter o
Espírito Santo prometido por meio desta fé." Gálatas 3:14.
2º) Arrependimento.
"Cada um de vocês deve abandonar o pecado,
voltar-se para Deus e ser batizado no nome de Jesus Cristo para o perdão dos
seus pecados: então vocês também receberão o Espírito Santo, que será dado a
vocês." Atos 2:38.
3º) Obediência.
"Nós somos testemunhas destes fatos, e bem assim o
Espírito Santo, que Deus outorgou aos que lhe obedecem." Atos 5:32.
Se obedecer a
Deus é guardar os seus mandamentos, conclui-se que quem vive em consciente
violação de qualquer um dos Dez Mandamentos não poderá esperar receber o
Espírito Santo.
4º) Oração. "E
se gente pecadora como vocês dá aos filhos o que eles precisam, não percebem
que o Pai celeste fará pelo menos tanto assim, e dará o Espírito Santo àqueles
que O pedirem?" Luc. 11:13.
O Dom de Línguas no Novo
Testamento
Há cinco
passagens do Novo Testamento mencionado o dom de línguas. Uma em Marcos, três
em Atos e uma em I Coríntios.
Ei-las em ordem
cronológica :
I. Marcos 16:17
– "Estes sinais hão de acompanhar aqueles que crêem: em meu nome expelirão
demônios; falarão novas línguas."
Este dom é
mencionado por Cristo em forma de uma promessa, que lhes possibilitava pregar o
evangelho na linguagem daqueles que iam ouvir as boas novas de salvação.
O adjetivo
"novas" não quer dizer línguas inexistentes, como defendem alguns,
mas línguas estrangeiras que eles falariam sem as terem aprendido.
É interessante
saber que há em grego duas palavras para novo – néos e kainós. Néos é novo no sentido de tempo,
recente e kainós é novo na forma ou qualidade.
Cristo aqui usou kainós porque se referia ao novo não
usado. [Ver Novo em Grego e Novo em
Português, p. 286]
Roberto
Gromacki no livro já anteriormente citado, página 72 afirma: "Se o falar
línguas tivesse envolvido línguas desconhecidas nunca antes faladas, então
Cristo teria usado néos (novo em referência ao tempo).
Mas, visto que ele empregou kainós, tem que se referir a
línguas estrangeiras, que eram novas àquele que as falasse, porém, que já
existiam antes".
Eram idiomas
novos para aqueles que os falariam. A denominação de novas indicava o contraste
com as línguas por eles faladas.
É Autêntica a Terminação de
Marcos?
A Crítica
Textual muito tem discutido sobre a autenticidade da conclusão do evangelho de
Marcos (16:9-20). Os dois melhores e mais antigos manuscritos completos da
Bíblia, o Sinaítico e o Vaticano, não a contêm. Nenhum manuscrito grego do
quinto século tem os versos 9 a 20 do cap. 16. Embora os manuscritos posteriores
tragam estes verses, temos que concordar com as declarações do Dr. A. T. Robertson, grande erudito
grego e autor de uma das melhores gramáticas para o Novo Testamento:
"Assim, os fatos são mui complicados, porém eles argumentam fortemente
contra a genuinidade dos vs. 9 a 20 de Marcos 16." – Word Pictures in the
New Testament, pág. 402.
Nota: Veja
neste Livro o ponto: A Discutível Terminação do Evangelho de Marcos.
O Desejado de Todas as Nações, pág. 821
declara o seguinte:
"Um novo
dom foi então prometido. Deviam pregar entre outras nações e recebiam poder de
falar em outras línguas, Os apóstolos e seus cooperadores eram homens
iletrados, todavia mediante o derramamento do Espírito, no dia de Pentecostes,
sua linguagem, fosse no próprio idioma, ou no estrangeiro, tornou-se pura,
simples e correta, tanto nas palavras como na pronúncia."
II. Atos 2:1-13
Este relato
circunstanciado do dia de Pentecostes (transliteração da palavra grega pentekostes – cinqüenta, qüinquagésimo dia após a ressurreição de
Cristo) é o mais significativo de toda a Bíblia, onde nos informa que os
apóstolos foram milagrosamente capacitados para falarem em várias línguas a fim
de que os presentes os ouvissem falar em seus respectivos idiomas.
O falar línguas
de Atos 2 era um sinal de que o dom do Espírito Santo tinha sido dado aos
apóstolos por Cristo, conforme sua promessa.
De maneira
nenhuma pode-se defender que estas línguas eram celestiais, extáticas,
desconhecidas, ininteligíveis, espirituais. Por que? Porque esta idéia não está
contida na Bíblia. O relato divino é este: "Não são, porventura, galileus
todos esses que aí estão falando? E como os ouvimos falar, cada um em nossa
própria língua materna?" Lucas apresenta a seguir a relação de dezesseis
regiões lingüísticas, cujos habitantes ouviam os apóstolos falarem nas línguas
de sua procedência.
O milagre de
Pentecostes consistiu no seguinte: Deus concedeu aos discípulos a faculdade de
falarem nas línguas maternas representadas pelas diversas nacionalidades
mencionadas em Atos 2:9-10. Este milagre era uma evidência de que o Espírito
Santo viera, e um sinal para os judeus de que Jesus era verdadeiramente o
Messias e ainda de que a mensagem apostólica era verdadeira.
O livro Atos dos Apóstolos, págs. 39 e 40
confirma as afirmações feitas:
"O Espírito Santo, assumindo a forma de línguas de fogo,
repousou sobre a assembléia. Isto era um emblema do dom então outorgado aos
discípulos, o qual os capacitava a falar com fluência línguas com as quais não
tinham nunca entrado em contato. . . . Esta diversidade de línguas teria sido
um grande embaraço à proclamação do evangelho; Deus, portanto, de maneira
miraculosa, supriu a deficiência dos apóstolos. O Espírito Santo fez por eles o
que não teriam podido fazer por si mesmos em toda uma existência. Agora podiam
proclamar as verdades do evangelho em toda a parte, falando cem perfeição a
língua daqueles por quem trabalhavam. Este miraculoso dom era para o mundo uma
forte evidência de que o trabalho deles levava o sinete do céu."
Quase todos os
comentaristas, através dos séculos concordam que os discípulos, nesta ocasião,
falaram as línguas das nações representadas em Jerusalém. Alguns estudiosos
declaram firmemente, que este milagre de pregar numa língua, que a pessoa antes
não conhecia, nunca mais se repetiu na História da Igreja. Gromacki faz isto
claro em Movimento Moderno de Línguas,
primeiro capítulo.
III. Atos 10:46
"Pois os
ouviam falando em línguas e engrandecendo a Deus."
Temos aqui o
relato do episódio acontecido, em Cesaréia, na casa de Cornélio. Do relato de
Lucas se conclui que as línguas aqui mencionadas não eram ininteligíveis, pois
Pedro e os companheiros "os ouviam engrandecendo a Deus".
A diferença
entre este relato e o de Atos 2 parece ser a seguinte: No Pentecostes o falar
em línguas foi o meio usado por Deus para anunciar o evangelho aos judeus que
vieram a Jerusalém. Na casa de Cornélio o falar línguas foi um
"sinal" para que os circunstantes cressem que Deus não faz acepção de
pessoas. Atos 10 :34-35; 11:17.
IV. Atos 19:1-6
Alguns varões
de Éfeso, sobre os quais Paulo impusera as mãos "falavam línguas e
profetizavam".
Pelo fato da
discrição não entrar em pormenores, faltam-nos elementos para conclusões mais
definidas.
E. G. White nos
informa que estes homens "receberam também o batismo do Espírito Santo,
que os capacitou a falar as línguas de outras nações e a profetizar." – Atos dos Apóstolos, pág. 283.
V. I Coríntios 12 a 14
Nestes
capítulos não há o relato descritivo do dom de línguas. O pastor batista João
F. Soren, no artigo "O Dom de Línguas à Luz do Novo Testamento"
declara enfaticamente: "Não há evidência segura de que tenha havido em
Corinto, à luz da exposição do Apóstolo Paulo em 1 Cor. 12, 14, a manifestação
do dom carismático de línguas, ou seja a capacitação concedida pelo Espírito
Santo para que os crentes ali falassem idiomas que nunca estudaram ou
aprenderam normalmente, à maneira do que se verificou no dia de Pentecostes. .
.
"Os
coríntios competiam em torneios poliglóticos na igreja, falando publicamente em
idiomas estrangeiros ou então tartamudeando em êxtase nervosa, para
impressionar os ouvintes. Não tinham eles o dom carismático de línguas. Isso
era algo muito diferente do que ocorrera no Pentecostes. Ao invés de darem um
sinal convincente do poder do evangelho para a salvação de todo aquele que crê,
o sinal que davam eles para os incrédulos era outro. A confusão, a balbúrdia
era tal que, para os incrédulos, a casa de Deus mais dava a impressão de ser
uma casa de dementes. I Cor. 14:23."
J. Reis
Pereira, em artigo colocado no livro A
Doutrina do Espírito Santo, pág. 77 nos esclarece:
"As
línguas de I Coríntios eram sons ininteligíveis. Davam a aparência de uma
língua, mas ninguém poderia compreendê-la. Para interpretá-la seria necessário um
outro dom, o dom de interpretação. Tais são as línguas faladas em assembléias
pentecostais de nossos dias, o dom que prova o batismo no Espírito Santo,
segundo os pentecostais. Tais são as línguas faladas em igrejas de outras
denominações, até mesmo batistas, em nossos dias, ao que nos informam. . .
"Línguas
ininteligíveis, extra-humanas, sons incompreensíveis, necessitando de um
intérprete tais seriam as línguas da Igreja de Corinto, segundo a interpretação
que estamos considerando."
Estudiosos
competentes das Escrituras têm chegado à seguinte conclusão:
O falar línguas
na Igreja de Corinto era um afastamento ou abuso do dom recebido
pelos 120 cristãos no Pentecostes.
Pelo relato de
Paulo sabemos que algumas poucas palavras compreensivas tinham muito mais valor
do que centenas em uma língua desconhecida. "Dou graças ao meu Deus,
porque falo mais línguas do que vós todos. Todavia eu antes quero falar na
igreja cinco palavras na minha própria inteligência, para que possa instruir os
outros, do que dez mil palavras em língua desconhecida." (I Cor. 14:18 e
19). Em outros escritos paulinos, referentes aos dons do Espírito, não há
nenhuma referência ao tão decantado dom de línguas. Ver Romanos 12 e Efésios 4.
Em Nota
Adicional sobre I Cor. 14 o SDA Bible Commentary declara
entre outras coisas o seguinte:
"Que a
língua falada sob a influência do dom em Atos 2 era uma língua estrangeira, que
poderia ser facilmente compreendida por um estrangeiro daquela língua.
"A
manifestação de I Coríntios era diferente daquela do dia de Pentecostes, porque
a língua não era uma língua falada por homens, e por este motivo nenhum homem
poderia entendê-la, a menos que estivesse presente um intérprete, que possuísse
o dom do Espírito para compreender a língua. (I Cor. 12:10).
"Após
enumerar uma lista de características que devem ser notadas na descrição
paulina de I Cor. 14, acrescenta:
"Esta
lista de características do dom torna claro que o apóstolo não está tratando de
um dom falsificado. Ele enumerou "línguas" entre os genuínos dons do
Espírito (cap. 12:8-10), e em nenhuma parte sugere que a manifestação descrita
no cap. 14 não é de Deus. Pelo contrário, louva-a (cap. 14: 4, 17), alega que
ele falava em línguas mais do que os Coríntios (v. 18), desejava que todos
possuíssem o dom, e recomenda os crentes a não proibirem o seu exercício (v.
39). Seu objetivo através da discussão é mostrar o seu devido lugar e função e
advertir contra o seu abuso."
Outras partes
desta Nota Adicional
que merecem destaque são estas:
"Seja qual
for a opinião adotada, uma coisa é certa, que a manifestação do dom no
Pentecostes e os propósitos para os quais ele foi dado (Atos 2) diferiam em
muitos aspectos do dom manifestado em Corinto. O dom em Corinto servia para
edificar o orador, não os outros (I Cor. 14:4). Paulo não encorajou seu uso em
público a não ser que um intérprete estivesse presente (versos 19, 28)."
"Por causa de certas obscuridades em relação à maneira
precisa pela qual o dom se manifestou antigamente, Satanás tem achado fácil
falsificar o dom. Exclamações incoerentes eram bem conhecidas e largamente
encontradas dentro do culto pagão. Também em tempos posteriores, sob o disfarce
de cristianismo, várias manifestações das chamadas línguas têm aparecido de
tempos em tempos. Contudo, quando estas manifestações são comparadas com
especificações escriturísticas do dom de línguas, elas são achadas ser algo
muito em desacordo com o dom antigamente comunicado pelo Espírito. Essas
manifestações portanto devem ser rejeitadas como espúrias. Entretanto, a
presença do dom falsificado não nos deve levar a tratar levianamente o dom
genuíno. A manifestação correta do dom a que Paulo se refere em I Cor. 14
realizou uma função proveitosa. É verdade que dela abusaram, mas Paulo tentou
corrigir os abusos e indicar a operação do dom em seu devido lugar e
função."
O principal
desacordo com os pentecostais começou quando os líderes religiosos concluíram
que o falar em línguas, os gritos de júbilo, as lágrimas, o rolar pelo chão não
passa de um emocionalismo que destrói a verdadeira adoração.
Origem do Pentecostalismo Moderno
John L. Sherrill no livro Eles Falam em Outras Línguas, pág. 53,
afirma que o falar línguas nos tempos modernos surgiu nos Estados Unidos com o
jovem ministro metodista chamado Chales F. Parham. Na véspera do ano novo de
1900 ele colocou as mãos sobre a cabeça da senhorita Ozman, e orando, dos
lábios da moça saíam sílabas em voz baixa, que nenhum deles podia entender. Os
pentecostais consideram essa data como muito importante na sua história, desde
que para eles foi a primeira vez, desde os dias da igreja primitiva, que alguém
falou em línguas.
Diferenças Entre o Dom de Atos 2 e o Falar Línguas dos
Pentecostais Modernos
Já vimos que as
línguas de Atos 2 foram de natureza sobrenatural, isto é, os apóstolos pelo
poder do Espírito Santo falaram línguas estrangeiras que não haviam aprendido
antes.
Se o movimento
pentecostal ou neopentecostal é uma volta ao padrão bíblico, então o movimento
carismático hodierno deve ser idêntico ao dos apóstolos. Se as línguas de Atos
2 eram 1ínguas conhecidas, as de hoje também o devem ser.
Vejamos se os
fatos confirmam esta realidade. Uma análise imparcial e conscienciosa nos
indica que as "línguas" destes movimentos modernos não se assemelham
a nenhuma língua conhecida. Tal declaração se baseia nos seguintes itens:
1º) A ausência
de qualquer estrutura lingüística.
2º) O uso
excessivo de uma ou duas vogais apenas.
3º) Os sons e
os vocábulos são totalmente desconhecidos.
William J. Samarin, professor
de antropologia e línguas da Universidade de Toronto, em seu livro Tongues of Men and Angels, pág. 227, afirma:
"Na
construção, bem como na função, as línguas
são fundamentalmente diferentes das 1ínguas existentes."
Esta sua
afirmação foi feita, depois de pesquisas baseadas no estudo de línguas
diferentes, faladas nas reuniões pentecostais na Europa e América do
Norte.
Outra
declaração bastante conclusiva pertence ao Dr. William Welmers, professor de línguas
africanas da Universidade da Califórnia,
"Eu devo
declarar sem reservas que as gravações que examinei não se assemelham
estruturalmente a uma língua. Não há mais do que sons de vogais contrastantes,
e poucos sons peculiares de consoantes; estes combinam para formar bem poucos
conjuntos de sílabas que se repetem muitas vezes em ordem variada." – Letter to the Editor Christianity Today, 8 de novembro de
1963.
Explicações para o Moderno
Movimento de Línguas
Dentre as
múltiplas explicações existentes estas se destacam por sua preeminência:
1ª) Ação diabólica.
Sabemos que
antes do verdadeiro derramamento do espírito, Satanás irá introduzi r uma
contrafação.
"Nas
igrejas que puder colocar sob seu poder sedutor, fará parecer que a bênção
especial de Deus foi derramada; manifestar-se-á o que será considerado como
grande interesse religioso. Multidões exultarão de que Deus esteja operando
maravilhosamente por elas, quando a obra é de outro espírito." – O Grande Conflito, pág. 464.
2ª) Fraude.
Os estudiosos
destes movimentos afirmam ser comuns o engano, a simulação na prática deste
dom, bem como com os dons de curar, profetizar e outros. Há muitos que fingem
estar falando uma língua estranha quando na realidade existe apenas
exibicionismo.
3ª) Hipnose.
Esta é a
explicação mais comum, do ponto de vista psiquiátrico e psicológico, para a
maioria dos casos de pessoas que falam "línguas".
4ª) Catarse
psíquica.
Ira Jay Martim
explica o fenômeno das línguas como uma catarse psíquica.
Para esta
classe, quando a pessoa aceita a Cristo, ela tem paz, confiança em Deus, fica
livre do pecado, enfim seria uma purificação ou catarse. Este estado produz em
muitos grande prazer, expressando estes sentimentos por cânticos, testemunhos e
falar 1ínguas.
5ª) Orgulho
espiritual.
Considerado
como o clímax da experiência espiritual o fenômeno de línguas, quando obtido
facilmente, produz a exaltação própria. Este falar línguas leva a pessoa a se
orgulhar.
Gromacki, na
obra já citada, no capítulo "A Natureza do Movimento Moderno de
Glossolalia", estudando as fontes que podem determinar a experiência
glossolálica moderna, cita estas: divina, satânica, psicológica e artificial.
"Eu tenho
sido instruída que quando alguém pretende exibir estas manifestações peculiares
(falar em línguas, dançar, gritar, pular, etc.), isto é uma evidência decisiva
que não é obra de Deus." – Manuscrito
115, 1908.
Conclusão
Através do
estudo feito concluímos que nenhum dom espiritual tem ocasionado tanta
controvérsia na Igreja como o dom de línguas.
A história nos confirma que
o fenômeno glossolálico não pertence exclusivamente à Bíblia, desde que foi
achado mesmo entre religiões pagãs.
Na realidade
aprendemos, que a verdadeira natureza da glossolalia bíblica consistia de
línguas estrangeiras faladas por crentes, que nunca as haviam aprendido e que este
dom era controlado pelo Espírito Santo.
A glossolalia
moderna em sons desconhecidos não tem nenhuma base nas Escrituras Sagradas.
Os estudiosos
da moderna glossolalia crêem que estes fenômenos muitas vezes são explicados
pela psicologia e como o resultado da contrafação diabólica do verdadeiro dom
escriturístico.
Uma análise das
passagens bíblicas onde houve tais manifestações nos fornece a orientação
segura para a glossolalia.
Esta pode ser
assim sintetizada:
1ª) O objetivo
deste dom nos dias apostólicos era evangelístico e não para servir de sinal ou
confirmação dos crentes.
2ª) Pelo estudo
feito o dom relatado em Atos 2 referia-se a uma língua existente, que a pessoa
passava a falar com fluência pelo poder do Espírito Santo.
3ª) Não há
nenhum indício de que fosse uma língua ininteligível e extática.
4ª) A
finalidade principal deste dom era a edificação dos crentes e o desenvolvi
mento da causa de Deus.
Objetivávamos
com o presente trabalho clarificar um pouco mais este tema, ajudando a sanar dúvidas
em assunto tão controvertido. Esperamos que se este objetivo não foi totalmente
atingido, ao menos ele o tenha sido em parte.
Nota
Na elaboração
deste tema valemo-nos de Dicionários, Comentários, artigos de revistas, estudos
esparsos e de alguns livros, destacando-se entre estes por nos fornecerem os
melhores subsídios os três seguintes:
1) Movimento
Moderno de Línguas de Robert G. Gromacki;
2) Luz
Sobre o Fenômeno Pentecostal de Elemer Hasse;
3) A
Doutrina do Espírito Santo do Parecer da Comissão dos Treze.
Quem se interessar por uma visão
mais ampla do assunto, deveria lê-los.
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